Neste que é um dos mais celebrados livros de Maryse Condé, as memórias de infância são também a narrativa de sua formação. Na Guadalupe dos anos 1940 e 1950, em um ambiente burguês, deve-se evitar falar a língua local, o créole. As convenções sociais se impõem sobre os sentimentos: não se chora diante do cadáver de um ente querido; não se comenta um divórcio na família. No contexto doméstico, cercado por mentiras, com uma mãe extremamente severa — com os outros e consigo mesma — e um pai reservado, a pequena Maryse segue o caminho da rebelião. A sua fuga para um mundo imaginário, a sede por conhecimento e por autonomia a guiam para o destino de escritora.
Ao retomar a sua história, Condé evoca a criança que percorre as paisagens caribenhas, a jovem que descobre em Paris a sua identidade negra, e revive o momento que lhe devolveu o amor pela sua família: "Eu deslizei a mão por entre seus seios que tinham amamentado oito filhos, agora inúteis, murchos, e ali passei toda a noite, ela grudada em mim, eu enrolada como uma bolinha contra seu flanco, sentindo seu cheiro de idosa e de arnica, sentindo seu calor". Naquela noite, Maryse encontrou sua mãe ao perdê-la.